sexta-feira, 11 de março de 2011

Sozinha (À Shiley Barreto)

A tua tristeza não tem nome, tampouco motivo
Os olhos que te devoram, são olhos felinos
Olhos que vêem uma face lânguida
Mas incapazes de perceberem tua alma partida.

De que te importa as bocas que escarnecem
Se é puro o teu proceder
Se o que te faz rir
E te traz alegria, não alegra a outra gente?

De que te importa os julgamentos
Se tudo que sofrestes, sofrestes sozinha
Se as lágrimas que na vida derramastes
Secaram sozinhas?

De que te importam as críticas
Se tudo que sentes, sentes sozinha
Tudo que vês, enxergas sozinha
Tudo que sonhas, sonhas sozinha
E tudo que amas, amas sozinha?

Lembre-se do que se
Esquecem os olhos famintos
Que devoram-te sem pedir permissão:
“Que da ostra fechada, sozinha, silenciosa
Nasce a pérola límpida e valiosa
E que a escuridão do fundo do oceano
Não causa-te a cegueira”.











Saudades

Estou com saudades da minha melancolia
Que me faz escrever poesia
Eu quero o peso da alma
Que me tortura, me mata
Me escraviza na arte de escrever.

Quero de volta minha tristeza sem medida
Meu tédio sem remédio
A ansiedade que me inquieta e me faz poeta.

Praça

Parada em uma praça
Deixei de cumprir um dever
Para satisfazer um prazer: escrever.

 Na esquina... Um preto, um homem preto
Sujeito suspeito... Será por ser preto?
Um outro preto aparece e conversa com o suspeito preto

Duas pretas, mulheres pretas
Conversam...
E eu aqui, a louca,  a tudo observo...

E todos olham-me... Condenando
Simplesmente porque parei a minha vida
Para observar o movimento da vida ao redor de mim.

Caminho em círculo
Procuro um lugar para vomitar esse tédio
Essa revolta sem nexo, sem motivo

Se eu pudesse, tiraria esta roupa
Deitaria na grama,e dormiria em paz
Mas assim me chamariam de louca
Condenariam uma atitude singela, de protesto...

Eu quero ser livre, mas ainda não posso!

















Asco

Eu quero meu casulo de volta
Sair do meu refugio me causa medo
Não sei ou ainda não aprendi
A conviver com outra gente.

A presença humana invade-me sem pedir permissão
E um intruso está a observar-me
Que asco, asco de tudo que é humano

Gosto mesmo é do isolamento, da solidão
De perder-me em meus labirintos internos
De não encontrar as respostas
De perder-me dentro de mim...




















Avesso

Ah, bendita melancolia que trago n’alma
Alma que transborda
Porque meu oceano de mágoas
Já não cabe em mim.

Ah, vontade louca de desatar os nós
De gritar... Gritar, gritar, gritar...
Vontade de encontrar o meu avesso
De partir-me ao meio.

E uma metade de mim
O bem será
A outra, o mal.

Eu quero ser o meu avesso
Deixem-me virada pelo avesso
Eu quero ser Eu pelo avesso.

Ainda não entenderam?
A lagarta vira borboleta
Assim como, agora,
Eu sou o meu Eu oposto.

Dos caminhos mais certos que trilhei
Emoções eu não tive
Agora quero tê-las
Deixem-me viver.

Não me venham com julgamentos
Se minhas atitudes vos chocam
Porque esse é meu maior intento.

Não sou santa, nem anjo
Tampouco diabólica
Sou Humana
De carne... Que sangra
De sangue... Que jorra
De desejos... Que pulsam.