quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Desabafo


O mundo é triste...

E desde que nasci trago em mim esse pesar
E a minha alma não mais suporta essa dor
Onde estão meus amigos?
Onde?
ONDE?
Eu grito e ninguém me ouve

Eu queria ser o nada
Mas o nada não existe
Que sina trago eu?
Que dor desgraçada que não passa
Mundo insuportável!

-Vá desgraçada que rasteja na areia quente
Encontre as palavras para descrever o que é a dor
Pois o mundo te odeia
E tu odeias o mundo.

Cadê os meus amigos?
CADÊ?

QUE AS MINHAS LÁGRIMAS SEJAM O MOTIVO DOS TEUS RISOS

Se deliciem, gracejem
O mundo é de todos vocês
Porque mesquinho é o mundo
E essa é a vossa grande recompensa

Esse verme vai rastejar aos vossos pés até o último dos seus dias
E estarei abaixo dos vossos chinelos

ALEGREM-SE! ALEGREM-SE:
Eu estou destruída

Vejam! Grande é o vosso mérito
E quão pequena sou eu

Eu sou a louca, a desvairada
E, como Jô, alimentar-me-ei das vossas migalhas
E os cachorros, de alma maior que a vossa,
Virá lamber as minhas chagas

Lancem contra mim as vossas pedras
Porque essa Maria Madalena praticara o maior crime
Essa Joana d'Arc é uma herege
Joguem-me numa fogueira
E deixem o meu corpo queimar
Mas queimem devagar, bem devagarzinho:
O pé, depois a mão, depois os olhos, o ouvido e a boca...
E depois?
Depois me devorem
Saboreiem...
Se esse é vosso maior desejo

E EU ESTAREI VESTIDA DE FARRAPOS
Doados por mendigos
E eu serei a maltrapilha
A esfarrapada

Assim serei esquecida, rejeitada
E deixada para trás
E vós sereis o centro de todas as atenções
E os únicos olhares lançados sobre mim
Serão os de desprezo, piedade e desdém

E tudo que eu fizer será motivo de graça
Do riso tolo
E nesse dia apocalíptico:
O MUNDO SERÁ VOSSO,
VOSSO SOMENTE

E se o vosso maior orgulho
Se a vossa maior satisfação
É o meu sofrer, a minha dor
O meu penar, o meu rastejar no mundo
APLAUDAM DE PÉ:

A VITÓRIA É DE TODOS VÓS!